Personagem atuante na cena do cordel do Ceará, o radialista, publicitário, escritor, cordelista e xilogravador Arievaldo Viana foi um grande divulgador da literatura popular, difundindo-a e fazendo-a acessível a professores, alunos e curiosos. O poeta, que ocupou a cadeira de número 40 da Academia Brasileira de Cordel, foi idealizador do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, que tinha como objetivo introduzir nas escolas a literatura de cordel a partir da promoção de palestras proferidas por cordelistas e por meio da distribuição de folhetos em kits educativos. Arievaldo é autor de cerca de 30 livros e de mais de 150 folhetos de cordel. Ganham destaque entre suas obras os escritos sobre e para o projeto, que incluem os folhetos “A didática do cordel” e o “A moça que namorou com o bode”, posteriormente adaptado para os quadrinhos.
Nascido no município de Quixeramobim, interior do Ceará, no dia 18 de setembro de 1967, Arievaldo Viana iniciou cedo na arte da literatura de cordel, uma vez que foi educado e alfabetizado com o apoio dos folhetos que vinham das feiras de Canindé e Quixadá. Quando criança, os folhetos chegavam até a sua casa por intermédio de seu pai, Evaldo Lima, que também era poeta popular. Essa exposição precoce à literatura de cordel fez com que Arievaldo iniciasse cedo o trabalho de criação, escrevendo seus primeiros textos em versos aos 10 anos de idade. Assim, o cordel foi, juntamente com o rádio, a janela de Arievaldo para a cultura, já que durante os primeiros anos da sua infância o poeta não teve acesso à energia elétrica, o que contribuiu para uma imersão na literatura popular.
A trajetória da família de Arievaldo Viana é narrada por ele em uma série de 3 livros: Sertão em desencanto, que conta a história dos seus antepassados desde o século XVIII até o ano de seu nascimento, no final da década de 1960; No tempo da lamparina, livro em que se debruça sobre a sua própria infância, destacando os personagens e histórias que conheceu na época e que acabaram por influenciar a sua identidade nordestina; e o terceiro livro, ainda a ser lançado, que tem um viés mais fictício, uma vez que busca trazer como foco as histórias “sobrenaturais” do sertão cearense como, por exemplo, o avistamento de objetos voadores não identificados e personagens do folclore. Apesar de comporem uma trilogia, essas obras não são classificadas no mesmo estilo, já que o primeiro livro é de história e de genealogia, o segundo é um livro de memórias e o terceiro será um romance. É importante destacar que, nos primeiros dois livros, o autor narra a sua história e seus antepassados, mas também perpassa por importantes momentos da história do Ceará como, por exemplo, a revolução pernambucana de 1817, a abolição dos escravos e sedição do Juazeiro em 1914.
Um dos pontos que mais chama a atenção na trajetória de Arievaldo Viana diz respeito ao seu engajamento em revitalizar a cultura da literatura de cordel a partir dos anos 1990. Segundo o poeta, foi nesse período que começou a notar o desaparecimento dos folhetos nas feiras de várias cidades, incluindo aquelas tradicionalmente reconhecidas por seus legados com o cordel, como é o caso de Juazeiro do Norte. Buscando reverter essa situação, Arievaldo iniciou uma série de ações que visavam dar mais visibilidade à essa literatura popular. Pode-se dizer que a primeira delas foi a edição de alguns folhetos em uma coletânea intitulada em Coleção Cancão de Fogo, que foi publicada em 1999. Essa publicação promoveu uma movimentação no cenário do cordel, uma vez que trazia elementos gráficos mais chamativos.
Outra medida adotada por Arievaldo Viana para a revitalização do cordel foi a criação do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula, que foi adotado inicialmente pelo município de Canindé e, posteriormente, em outros municípios brasileiros. O projeto consistia em introduzir a literatura de cordel na sala de aula, visando a geração de novos leitores nas escolas. Para essa sensibilização da comunidade escolar, as ações do projeto incluíam a realização de palestras com professores e alunos, e a distribuição de folhetos de cordel para os alunos recém-alfabetizados.
Com o sucesso do projeto, a literatura de cordel entrou de vez no cenário educacional, estando hoje presente em iniciativas do Ministérios da Educação como no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). Nesse quesito, Arievaldo Viana não foi apenas o responsável por esse alcance da literatura popular, como também esteve, no ano de 2019, com duas obras indicadas e distribuídas por esse programa nas escolas públicas, são elas: Cervantes em Cordel: Quatro Novelas Exemplares e João Bocó e o Ganso de Ouro.
A internet foi outro meio utilizado por Arievaldo Vianna para divulgar a literatura de cordel. Sua atuação se dava, principalmente, por meio de um blog intitulado Acorda Cordel, onde divulgava alguns de seus trabalhos e de colegas poetas. O blog esteve ativo até poucos dias antes de sua morte, que ocorreu em 30 de maio de 2020, decorrente do agravamento de uma infecção dentária.
Os fatos destacados neste texto são apenas alguns marcos da intensa trajetória de Arievaldo Viana na literatura de cordel. Dedicado, o poeta tem uma extensa produção, que conta com parcerias importantes como a de seu irmão, Klévisson Viana, fundador da editora Tupynanquima, do desenhista e quadrinista Jô Oliveira e da multiartista Arlene Holanda. Essas e outras obras podem ser conhecidas mais especificamente na seção denominada Na nossa corda, que apresenta a capa do livro/cordel, informações gerais como os autores e ilustradores, além de uma pequena resenha.