Bárbara Pereira de Alencar foi uma proprietária de terras e revolucionária cearense. Nascida em Exu no dia 11 de fevereiro de 1760, ficou conhecida pela sua atuação ativa nas revoluções de 1817 e 1824, sendo considerada a primeira presa política do Brasil. É vista como símbolo de coragem e de luta pelos seus ideais. É mãe de Tristão Gonçalves e José Martiniano de Alencar e avó do romancista José de Alencar.
O passado do estado do Ceará é repleto de histórias de coragem, perseverança e de lutas de ideais. Foram vários os protagonistas dessa história, mas com certeza uma de suas mais importantes e, infelizmente, não muito reconhecida é Dona Bárbara de Alencar, uma mulher que incorporou o espírito de liberdade e luta, agindo de acordo com o que achava melhor para sua terra.
Bárbara Pereira de Alencar nasceu na cidade de Exu, sertão de Pernambuco, no dia 11 de fevereiro de 1760, na Fazenda Caiçara, local onde o patriarca da família, Leonel de Alencar Rego, ergueu sua propriedade e, após seu falecimento, o pai de Bárbara, Joaquim Pereira de Alencar, recebeu como herança. Durante sua infância e adolescência, Bárbara sempre se mostrava curiosa e disposta a aprender, o que foi facilitado pelos estudos que foi capaz de fazer, indo contra os costumes da época, onde moças não recebiam educação letrada igual aos homens. Quando se casa com José Gonçalves dos Santos, Bárbara se muda para o Crato, no Ceará, e faz da região sua terra: é por ela que ela irá lutar nos anos seguintes. Mediante amizades com pessoas influentes da sociedade da época como intelectuais, eclesiásticos e políticos, ela comentava, discutia e aprendia sobre assuntos importantes como a monarquia, as ideologias ascendentes da época, economia e possibilidades de intervenção na política interna da colônia. Nisso, ideologias como liberalismo e republicanismo passam a fazer parte do imaginário de Bárbara, que procurou educar seus filhos a partir dessas mesmas convicções, percebendo as falhas existentes no modelo político de sua época. Ela queria uma nação forte, livre, que não fosse subordinada a outras. Após se tornar viúva, Bárbara passou a cuidar das propriedades da família e também precisou manter as relações entre amigos e parceiros.
Os filhos de Bárbara de Alencar receberam educação letrada a partir dos estudos em Olinda e Recife, polo intelectual e de transmissão de ideias da época. Quando retornavam, ela e seus filhos discutiam sobre os assuntos mais debatidos no momento. Isso favoreceu o grande engajamento e coragem que Bárbara e a família Alencar tiveram durante os eventos revolucionários de 1817 e 1824. No dia 3 de maio de 1817, após uma missa na Igreja Matriz do Crato, o seminarista José Martiniano, filho de Dona Bárbara, toma a frente do altar e incita a todos os presentes a se unirem a ele contra a política atual da Coroa portuguesa. Dava-se início, assim, a etapa da revolução republicana de 1817 no Ceará, sendo proclamada a república do Crato, tendo José Martiniano com seu presidente. Vale ressaltar que nenhum passo era dado sem antes ter o aval de Dona Bárbara, evidenciando assim seu prestígio e respeito entre os revolucionários.
Essa experiência republicana, contudo, durou apenas oito dias, sendo desfeita a base da força armada da Monarquia. Muitos são presos, inclusive Bárbara e dois de seus filhos, Tristão Gonçalves de Alencar e Carlos José dos Santos. Primeiro, são mantidos presos em Fortaleza, depois são levados a Bahia, permanecendo lá por quatro anos. Nesse período, Bárbara de Alencar perde muitos de seus bens. Mesmo assim, ela segue com seus princípios, lutando por mudanças. Quando, em 1824, D. Pedro I dissolve a assembleia constituinte e permanece resguardando as regalias dos portugueses no Brasil, outra revolução estoura, com preceitos separatistas e republicanos. A Confederação do Equador teve uma ajuda significativa do Ceará, que partiu, principalmente, da família Alencar, nas pessoas de Dona Bárbara e Tristão Gonçalves de Alencar, que agora incluíra “Araripe” em seu nome. Esse último se tornou o presidente do Ceará durante essa revolução, mas assim como a anterior, não durou muito tempo. Após a derrota da Confederação do Equador, Tristão é morto, e muitos dos confederados no Ceará, como Padre Mororó, Feliciano Carapinima e Azevedo Bolão, foram condenados ao fuzilamento, ato este que aconteceu no então Campo da Pólvora, atual Passeio Público. Após isso, Dona Bárbara, já bem idosa, se resguardou e procurou viver seus dias de forma mais calma, até seu falecimento. Apesar disso, ela nunca deixou de lado seu espírito guerreiro, corajoso e leal a suas convicções.
Atualmente, Bárbara de Alencar tem seu livro inscrito no livro de heróis da pátria, tendo sido reconhecida, assim, sua grande importância para o engrandecimento da nação. Sua história também serviu de inspiração para muitos artistas, como Caetano Ximenes de Aragão, que escreveu o livro-poema Romanceiro de Bárbara, que conta a trajetória de Dona Bárbara do Crato em 77 poemas. A memória de Bárbara de Alencar ainda é bastante nebulosa, mas graças aos esforços de estudiosos, podemos entender a grande importância dela para o sentimento de nação e pátria existente no nordeste, até porque, antes de D. Pedro I em 1822 e de Deodoro da Fonseca em 1889, Dona Bárbara de Alencar já estava a frente de uma independência e de uma proclamação da república.