Francisco Domingos “Chico” da Silva foi um pintor, desenhista e artista plástico nascido no Acre, em 1910, mas que viveu praticamente toda sua vida no Ceará, em Fortaleza, no bairro Pirambu. Foi um artista autodidata, que pintava figuras reais e irreais, com seu traço único, o que chamou a atenção do espaço artístico europeu e acabou tornando o pintor analfabeto cearense num dos maiores artistas plásticos da história do país.
Arte pode ser compreendida como uma forma de se expressar e de expressar suas visões sobre o mundo ao seu redor. Com o passar dos anos, as várias formas de arte começaram a ser classificadas e identificadas de acordo com algumas tendências, como romantismo, modernismo, cubismo, dentro outras vertentes. Certos artistas, porém, não se encaixaram nesses moldes, seguindo seus instintos e vontades para fazer arte. Esse foi o caso do pintor Francisco Domingos da Silva, mais conhecido como Chico da Silva.
Nascido em 1910, na localidade de Alto Tejo, no Acre, sendo filho de mãe cearense e pai indígena da Amazônia peruana, Chico da Silva foi um pintor e deenhista semianalfabeto, amador, autodidata, que fazia dos muros e paredes suas telas. Ele e sua família vieram para Fortaleza em 1934, se firmando no bairro periférico do Pirambu, local conhecido como uma das maiores favelas do Brasil. Aqui, ele exerceu profissões variadas, que não tinham relação alguma com arte, como consertar sapatos e guarda-chuvas. Mesmo assim, seguia “grafitando” as paredes do Pirambu, usando, ainda, giz e carvão para sua imaginação aflorada ganhar vida naquelas alvenarias. Seus traços eram únicos, fortes, criando animais, paisagens e até seres fantásticos e mitológicos, como sereias e dragões, com muita clareza. Suas pinturas ganharam ainda mais vida quando passou a utilizar cores variadas além do branco do giz e o preto do carvão.
Na década de 1940, o artista francês Jean-Pierre Chabloz estava de passagem por Fortaleza e enquanto andava pela praia do Pirambu, encontrou Chico da Silva criando outra de suas pinturas, além de vislumbrar outros de seus grafites. Chabloz, achando que aquele humilde artista pirambuense tinha qualidades a serem exploradas, o toma como discípulo, introduzindo o artista ao uso de guache e óleo. Chico, então, passou a pintar também em telas, mas nunca deixando de lado suas telas de concreto e tijolos.
Chico da Silva foi um dos artistas do movimento chamado naif, onde os pintores não tem formação artística, nem seguem uma vertente artística já consagrada: são pintores de suas próprias visões artísticas, sendo autodidatas. Junto com Chabloz, Chico da Silva começou a expor suas obras pela cidade, depois viajou para o Rio de Janeiro e, alcançando renome mundial, foi expor na Suíça. A partir daí, as obras de Chico da Silva ganham bastante prestigio com os admiradores de artes plásticas europeus, ainda mais por ser um autodidata e ter criado um traço muito característico. Além de expor na Suiça, ele também participou de exposições em países como França, Itália e Rússia. No Brasil, teve exposições em Manaus, no Rio de Janeiro, além de colaborar na exposição de instalação do MAUC, o Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará, em 1961, e desenvolveu atividades no museu até 1963. Em 1966, recebeu o uma menção honrosa na XXXIII Bienal de Veneza.
Chico da Silva foi um dos maiores artistas plásticos do país, e o Pirambu foi seu ateliê. Atualmente, algumas de suas obras estão expostas no MAUC. Um artista sem estudos, morador de uma das áreas periféricas de maior visibilidade do país, conseguiu romper muitas barreiras e mostrar toda a sua arte em outros muros, que não se restringiam mais aos do Pirambu.