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Francisco José do Nascimento, conhecido como Chico da Matilde, foi um jangadeiro, prático mor e líder abolicionista cearense, nascido em 15 de abril de 1839. Teve um papel significativo para a abolição da escravatura no Ceará, sendo o líder dos jangadeiros durante as greves no ano de 1881, onde os trabalhadores se recusaram a transportar os negros escravizados até os navios negreiros. Se tornou um símbolo de luta pela liberdade e foi alcunhado como Dragão do Mar após a abolição da escravatura no Brasil, em 1888.

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Durante a segunda metade do século XIX, com o Brasil sendo ainda um dos restantes países escravocratas, o ideal abolicionista foi crescendo em todas as partes do território brasileiro, sendo impulsionado principalmente por influencias externas, europeias, notadamente inglesas, de cunho liberal e industrial. Constitucionalmente, algumas leis foram sendo criadas no Brasil, de acordo com as pressões externas de política e economia, como a Lei Eusébio de Queiroz, de 1850, que encerrou a chegada de novos escravizados ao Brasil, contribuindo para uma elaboração de um mercado interno de venda de escravos. Nesse contexto, a província do Ceará se mostrava como uma das mais ativas na luta pela libertação dos negros escravizados, e Francisco José do Nascimento foi um dos abolicionistas que esteve na vanguarda pela abolição da escravatura.

Chico da Matilde, como assim era chamado o futuro Dragão do Mar, nasceu em Canoa Quebrada, no Aracati, litoral do Ceará, em 15 de abril de 1839. Filho de pescadores, pobre e mulato, com apenas 8 anos, foi deixado pela mãe, Dona Matilde (daí o apelido), aos cuidados de um capitão de um navio para assim ter um emprego. Isso ocorreu após a morte precoce de seu pai. Chico da Matilde passou a trabalhar como menino de recados durante as viagens desse navio e de outros, que tinham a rota Maranhão-Ceará. Cresceu se familiarizando ao mar e estando em ocupações intrinsecamente ligadas a ele, como pescador, prático mor e jangadeiro. Durante esses anos, ele viu as várias atrocidades que eram submetidos os cativos durante e após o tráfico, criando assim nele um espírito idêntico ao de algumas personalidades da época: o espírito abolicionista.

Em 1881, Chico da Matilde era então prático mor da Companhia dos Portos, responsável por ancorar devidamente as naus nas costas irregulares do litoral fortalezense. Além disso, era líder jangadeiro e dono de algumas jangadas. Em janeiro daquele ano, alguns navios negreiros atracaram próximos ao porto em Fortaleza, local hoje conhecido como a Praia de Iracema, onde os escravizados eram levados da terra até o navio por meio de jangadas. Isso ocorria justamente pela dificuldade dos navios negreiros de atracarem, devido aos ventos fortes e mar arredio, dependendo assim, dos jangadeiros. Unindo-se a causa abolicionista, Chico da Matilde e seus colegas jangadeiros se recusaram a realizar o translado dos escravos, caracterizando assim uma greve, e em agosto, novamente houve esta greve, frente a navios negreiros que tinham como destino o sul do país. A partir desta segunda greve, o porto do Ceará estava oficialmente fechado para o tráfico negreiro interprovincial. Chico da Matilde foi considerado, assim, um importante líder abolicionista e símbolo daquela luta pelos movimentos abolicionistas da província, como foi o caso da Sociedade Cearense Libertadora. Esse movimento, que pregava seus ideais através do órgão chamado “O Libertador”, era formado por intelectuais contrários ao regime escravocrata. Esse grupo, vendo o símbolo que Chico da Matilde iria representar para a causa abolicionista, o introduz na Sociedade e juntos prosseguem pela busca da libertação dos escravizados.

Em 24 de maio de 1883, Chico da Matilde e os demais “Libertadores” estavam presente na cerimônia da abolição em Fortaleza, que ocorreu meses após o pioneirismo em Redenção, antiga Vila do Acarape, onde a abolição foi promulgada em 1º de janeiro do mesmo ano. Durante a cerimonia de abolição da escravidão no pais, em 1888, Chico da Matilde foi levado ao Rio de Janeiro, junto com sua jangada Liberdade, para assim representar o movimento abolicionista brasileiro. Lá, ele recebe a alcunha que nunca mais será retirada dele: Dragão do Mar.

A memória de Dragão do Mar permaneceu presente na História do Ceará, devido a sua atuação direta contra a estrutura escravista de sua época e sua simbologia de herói. Algumas manifestações culturais, com o passar dos anos, utilizaram a imagem de Dragão do mar em suas criações: Acadêmicos de Santa Cruz, em seu samba-enredo de 2013, tiveram o Ceará e suas personalidades, como o Chico da Matilde, como temática; Uma estátua em tamanho real do Dragão do Mar está localizada no centro cultural que leva seu nome em Fortaleza. Sua alcunha heroica está presente também em escolas, em ruas, praças e num dos pontos mais simbólicos e importantes para a cultura cearense: o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

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