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Como representantes da cultura popular brasileira, os cordelistas têm um dia no calendário dedicado para homenagear sua arte e importância para o Brasil. O dia 19 de novembro foi instituído como dia do cordelista. Essa data não foi escolhida de maneira aleatória: trata-se do dia e mês do nascimento de Leandro Gomes de Barros, considerado o patrono dos cordelistas, sendo o primeiro a publicar, divulgar e vender seus cordéis, e o detentor de centenas de obras escritas.

Leandro Gomes de Barros nasceu em Pombal, uma cidade no sertão da Paraíba, no dia 19 de novembro de 1865. Foi criado pela família do Padre Vicente Xavier Farias, a qual Leandro tinha ligação de sangue pelo lado materno. Viveu 15 anos de sua vida na Vila de Teixeira, onde ficou próximo de muitos cantadores e poetas da época, o que o ajudou a moldar seus próprios talentos para a literatura popular. Anos depois, mudou-se para Pernambuco e morou nas cidades de Jaboatão, Vitória de Santo Antão e Recife, onde viveu em várias moradias. Isso porque ele não se acomodava em um único lugar devido ao esforço que empregava em divulgar seu trabalho, viajando pelo sertão nordestino, de cidade em cidade, angariando reconhecimento e fama entre os sertanejos e outros artistas do meio. Leandro Gomes de Barros foi muito bem sucedido em sua empreitada: atualmente ele é reconhecido como o maior poeta popular do Brasil de todos os tempos, pioneiro na confecção de folhetos impressos da maneira que conhecemos hoje, autor de vários clássicos e líder absoluto e isolado de vendas, já que se estima que seus folhetos ultrapassaram as mais de 3 milhões de cópias vendidas.

As obras de Leandro Gomes de Barros tinham como foco assuntos diversos da sociedade brasileira e mundial de seu tempo, indo desde jogo do bicho e brigas familiares, passando por cangaço, religião e política, até assuntos bélicos e de inspiração nos contos de cavalaria europeus. Foi um assíduo crítico do protestantismo, ao qual Leandro se referia como “nova seita”. No âmbito mais doméstico, a figura mais satirizada pelo cordelista era a sogra, vista por ele como a principal responsável pelo caos entre um casal. Suas críticas com tons satíricos certeiros caíram na graça daqueles que liam, o que causou uma divulgação espontânea em certa altura na carreira do cordelista. Certamente, seu personagem mais presente em suas obras foi Antônio Silvino, que aparece nas obras de Leandro de forma mais humanizada, visto quase como um justiceiro. Dentre seus cordéis, vale a menção dos mais significativos: “Os sofrimentos de Alzira”, “O cavalo que defecava dinheiro”, “Antônio Silvino o rei dos cangaceiros”, “Batalha de Ferrabras com Oliveiros” e “Peleja de Manuel Riachão com o Diabo”.

Leandro Gomes de Barros foi inspiração para muitos outros artistas, na literatura popular ou não. Muitos de seus contemporâneos o citaram em suas poesias, como no caso de José Martins de Ataíde e Francisco das Chagas Baptista, que o citam praticando sua peregrinação pelo Nordeste, estando presente em vários lugares durante suas idas e vindas, vendendo suas obras. João Martins de Ataíde foi, inclusive, o detentor dos direitos de publicação da obra de Leandro Gomes de Barros após a sua morte, fato que acarretou em algumas mudanças na forma como o folheto era apresentado, já que o nome de João passou a aparecer, a princípio, como editor proprietário, depois como editor e, por fim, algumas das histórias escritas por Leandro passaram a ser creditados apenas à João Martins de Ataíde.

Além disso, outros artistas de renome comentaram sobre a importância e pioneirismo de Leandro Gomes Barros. Carlos Drummond de Andrade, em sua crônica “Leandro, O Poeta”, exalta a figura do cordelista e o chama de “rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro”. Umas das obras mais reconhecidas de Ariano Suassuna, “O Auto da Compadecida”, tem diretas inspirações em obras de Leandro Gomes de Barros, intituladas “O testamento do cachorro” e “A história do cavalo que defecava dinheiro”.

Mesmo após sua morte, suas obras continuaram a ser publicadas diversas vezes, tamanho era o peso exercido sobre o povo que lia Leandro Gomes de Barros. Ele ainda é referência para muitos cordelistas atuantes há anos e também daqueles recém iniciados no mundo da literatura de cordel.

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